quarta-feira, 11 de junho de 2014

Mais chuvas e temporais a vista!

A região sul do Brasil será marcada por mais chuvas e temporais nos dias que seguem. Observa-se nesta quarta-feira (11/06/14), analisando o nível de 250 hPa, uma ampla região difluente (Figura 1), originada devido a atuação de um sistema de alta pressão na porção norte do país e um amplo cavado sobre o Pacífico na porção sul da América do Sul. Têm-se na literatura que uma das consequências de uma região difluente/divergente em altos níveis é a convergência nos níveis mais baixos (Figura 2). É possível observar um reflexo do cavado em altos níveis nos níveis médios da atmosfera (Figura 3). A existência desta configuração, junto com a forte atuação do Jato de Baixos Níveis (JBN), advectando ar quente e úmido (Figura 4 e 5), está causando a formação de nuvens convectivas na porção oeste do RS e no Uruguai, como já é possível se observar nas imagens de satélite e radar.

Figura 1. Nível de 250 hPa com ampla região difluente e presença de um cavado.

O cavado existente em altos níveis, advecta vorticidade ciclônica para os níveis mais inferiores a leste de sua posição, ou seja, ele 'dá' o engatilho para as partículas adquirirem movimento rotacional, isto acaba acarretando na perda de massa e diminuição da pressão, ou seja, originando uma região de baixa pressão.

Figura 2. Esquema de divergência e convergência.


Figura 3. Nível de 500 hPa.

Na figura acima é possível identificar a presença de um cavado, que devido a suas características sinóticas e dinâmicas tende a acarretar na perda de massa e consequentemente queda na pressão em superfície, outro fator que está favorecendo a esta queda, é a intensa atuação do JBN, que por sua vez é originado pela atuação dos ventos alísios, estes conseguem adentrar no continente de tal maneira que se chocam com os Andes e são direcionados para sul, carregando assim ar quente e úmido proveniente da região amazônica para latitudes médias, entretanto temos um fator que está intensificando o JBN, que é a Alta Subtropical do Atlântico Sul, que está deslocada da sua posição climatológica.

Figura 4. Nível de 850 hPa com a atuação do JBN.

Figura 5. Umidade Relativa para o nível de 850 hPa.

Devido ao transporte de ar quente e úmido como dito anteriormente, ocorrerá o aprofundamento de uma região de baixa pressão a leste da Argentina, acarretando em processo de ciclogênese e frontogênese, ou seja, a formação de um sistema frontal sobre o continente a partir de amanha (12/06). O ramo frio deste sistema poderá provocar chuvas de moderada a forte em diversas regiões do continente devido a sua magnitude, após a passagem deste sistema frontal, haverá a entrada de um sistema de alta pressão pós frontal, podendo provocar na queda brusca de temperatura na região sul do país e com isso a formação de geada e decorrendo na provável ocorrência do fenômeno caracterizado como friagem na região norte do país.
Acompanhe nossa pagina no Facebook onde faremos o acompanhamento deste sistema (nowcasting) e os manteremos informados.

Atenciosamente,
Equipe Capincho Cumulus

terça-feira, 10 de junho de 2014

Neve na Argentina, temporais e alagamentos/enchentes no Centro-Sul do Brasil!!

Parte das regiões Sul e Centro-Oeste estão sendo atingidas por chuvas intensas e tempestades acompanhadas de descargas elétricas nos últimos dias.
As tabelas 1 e 2 contêm dados de precipitação das estações automáticas do INMET dos últimos dias em Santa Catarina e no Paraná, respectivamente. Em SC, os acumulados entre os dias 5 e 6 de junho foram de 44.6 mm em Florianópolis, 56.6 mm em Lages e 75.1 mm em São Joaquim. No PR, os acumulados entre os dias 6 e 7 de junho foram de 140.7 mm em Ivaí, 144.5 mm em Castro e 149.6 mm em Curitiba.

     As chuvas provocaram transtornos em diversas cidades, tais como:  


05/06
06/06
Florianópolis
7,4 mm
37,2 mm
Lages
8,4 mm
48,2 mm
São Joaquim
13,6 mm
61,5 mm
Tabela 1 – Precipitação em SC nos dias 5 e 6 de junho.


06/06
07/06
Castro
85,7 mm
58,8 mm
Curitiba
54,4 mm
95,2 mm
Ivaí
40,0 mm
100,7 mm
Tabela 2 – Precipitação no PR nos dias 6 e 7 de junho.

A estação do INMET de Paranapoema(PR) registrou rajada de vento de 85 km/h.

Estes transtornos estão ocorrendo devido a alta instabilização da atmosfera, e esta por sua vez decorreu inicialmente devido a intensificação de uma região prolongada de baixa pressão (cavado) sobre a porção sul do Brasil, esta intensificação originou em um processo conhecido como Ciclogênese, ou neste caso, Ciclogênese explosiva devido á queda abrupta da pressão atmosférica. Analisando as cartas sinóticas disponibilizadas pelo Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), Fig. 1, nota-se que dentro de 24 horas o ciclone extratropical diminuiu em 28 hPa sua pressão, ou seja, mais de 1 hPa por hora que segundo a literatura é denominada como a Ciclogênese Explosiva já citada anteriormente. Associada a esta condição, nota-se a presença de um Vórtice Polar. Esta configuração acarretou em nevascas no Sul da Argentina nos dias 5 e 6 de Junho (Fig. 2).


Figura 1. Cartas sinóticas do dia 04 e 05 de Junho as 12 UTC.

Na figura acima nota-se a presença de um ciclone extratropical indicado pela letra B (Baixa Pressão) na porção sul da América do Sul, este se intensifica do dia 04 para o dia 05 e seu ramo frontal frio atinge as regiões Sul do Brasil.


Figura 2. Imagem do satélite MODIS. 

Desde o dia 04/06 formaram-se dois ciclones extratropicais ao sul do RS consecutivos, o ramo frontal frio do primeiro atuou na região sul do Brasil entre os dias 04, 05, 06 e 07, sendo que permaneceu estacionário entre o norte do RS e SC nos últimos dois dias. Neste domingo uma nova frente fria se originou associada ao segundo ciclone e ficou estacionária nestas regiões durante boa parte do dia e após isso avançando pelo continente.
A atuação seguida destes sistemas frontais provocou precipitações torrenciais e tempestades em parte da região Sul do país. Estes geraram Linhas de Instabilidade (LI) e frentes de rajada.
A ocorrência destas configurações atmosféricas foi facilidade por um bloqueio atmosférico em médios e altos níveis, que impediram o avanço dos sistemas frontais para dentro do continente, forçando-os assim, a ficar estacionários sobre a parte sul do Brasil.


Figura 3.Descargas elétricas associadas sobre o Sul, Centro-Oeste e Sudeste ontem (08/06) às 16:00 (horário de Brasília). 

Na figura acima nota-se a formação de uma linha de instabilidade (LI) com alta atividade elétrica, causando tempestades.

Abaixo está uma imagem do satélite Tropical Rainfall Measuring Mission (TRMM), onde é possível observar a estimativa de precipitação acumulada na ultima semana, nota-se que para regiões de SC e PR estes valores ficam entre 500 e 700 mm aproximadamente. Lembrando que é uma estimativa, os valores podem estar sendo superestimados, porém, mesmo com isto, a magnitude dos acumulados foi impressionante.

Figura 4. Imagem do satélite TRMM (Disponível em: http://trmm.gsfc.nasa.gov/).

Na figura abaixo, está o acumulado de precipitação para o estado do Paraná deste ultimo Domingo (08/06/2014).

Figura 5. Acumulado de precipitação para o estado do PR

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Figura 6. Animação das imagens do satélite GOES 13 no canal realçado.

Na animação acima (04/06 á 08/06) pode-se observar o desenvolvimento e avanço do sistema que provocou inúmeros transtornos para a população de RS, SC e PR. 

Segue uma parte do texto publicado pela Defesa Civil de SC sobre o evento:

"O registro de municípios afetados pelas chuvas se mantém em 24 cidades. No entanto na manhã desta segunda-feira (09) mais uma cidade decretou Situação de Emergência. Major Vieira comunicou a Secretaria de Estado e já encaminhou a documentação.
O número de desalojados ainda não teve alterações. Segue a estimativa de 16 mil, conforme comunicados dos municípios. Já desabrigados são cerca de 670 desabrigados.
Volume de chuva nas regiões do Planalto Norte, Alto e Médio Vale do Itajaí e Litoral Norte, foram às regiões com maiores acumulados de chuva nas últimas 96h (entre 8h do dia 05/06 às 8h do dia 09/06/14): Corupá 462,6mm, Jaraguá do Sul 374,8mm, Três Barras e Porto União 334mm, Schroeder 330,6mm, Papanduva 326,2mm, Monte Castelo 315,4mm, Rio Negrinho 305,6mm, Canoinhas 301,6mm, Massaranduba e Joinville 297,2mm, Itaiópolis 294,6mm, Balneário. Barra do Sul 276 mm, Luiz Alves 271,2, Timbó 261,4mm, Ilhota 259,8mm, Benedito Novo 253,8mm, Rio do Sul 206,2mm."

Abaixo está uma foto disponibilizada pela Defesa Civil - SC de uma das cidades atingidas.



De acordo com o boletim da Defesa Civil do estado do PR divulgado às 11h30 desta segunda-feira, chega a 55.659 o número de pessoas atingidas, em 86 municípios paranaenses. Em todo o Estado, 7.530 pessoas ficaram desalojadas e 2.436 estão desabrigadas. Segundo o levantamento, 2.286 pessoas permanecem em abrigos. Nove pessoas morreram.